Porque reuniões de condomínio são torturantes para muitas pessoas, incluindo eu?
*Daniel Schnaider
Não falo isso pelos temas a serem
debatidos, não se engane, pois eles muito me interessam, mas sim pela forma
como eles são discutidos, pela natureza agressiva e desrespeitosa do debate. O
que será que acontece com a paciência e a educação? Porque reuniões que
deveriam ser harmoniosas geram tamanho desconforto?
Talvez seja o momento de repensar
sobre as reuniões de condomínio para conseguirmos de fato aproveitar as
inúmeras boas ideias que muitas pessoas têm sobre a vida social, mas acabam não
participando das reuniões por causa das brigas, gritarias e xingamentos.
Também temos que refletir, que além
do desgaste desses encontros, também há o depois. Encontrar as pessoas que nos
faltaram com respeito no elevador não é uma boa maneira de começar o dia. Isso,
quando os conflitos não extrapolam as barreiras de concreto para a vida
pessoal.
Por exemplo, eu mesmo fui
processado por um síndico por alteração da fachada do prédio. Minha culpa foi
trocar uma esquadria corroída ao longo de quarenta anos por uma nova, que por
ser limpa parecia diferente das restantes. Fui obrigado a participar da
humilhante reunião em que ele contou a todos outros moradores como nós
estávamos “fazendo algo errado”, além de nos multar, claro.
E embora nós tivéssemos a
sustentação óbvia de que estávamos certos, muitos condôminos votaram contra
nós. Por fim, vencemos na assembleia, e mesmo assim o síndico processou.
Vencemos nos tribunais, nas duas instâncias em que o síndico em questão
resolveu nos processar. E mesmo após o condomínio ser compelido a nos pagar por
danos morais, eu confesso que não fiquei contente. Justamente porque seria
obrigado a casualmente encontrá-lo e viver em sociedade.
O curioso é que até este fato, o
síndico era um “amigo”, uma pessoa com quem interagimos com frequência. Desde
então, eu nunca mais participei de nenhuma assembleia. Mas realmente precisa
ser sempre uma experiência negativa?
Contrastando com isso, a dinâmica
das assembleias de condomínio, muitas vezes marcada por embates diretos e
pessoais, demonstra que ainda há espaço para incorporar a eficiência das
práticas adotadas pelas SAs. A tecnologia pode ser a grande aliada nessa
transição, permitindo a realização de pesquisas para entender melhor as
preferências dos condôminos e, assim, antecipar conflitos ao levar em
consideração suas visões e opiniões na elaboração de propostas.
Condomínios audaciosos podem
estabelecer um padrão para a submissão de propostas. Certamente, todos
conhecemos pessoas que lançam ideias sem considerar previamente os custos, as
consequências ou as experiências de outros condomínios que já implementaram
iniciativas semelhantes. Ao instaurar um sistema de formulários eletrônicos,
com questões pertinentes à proposta a ser apresentada, criamos uma espécie de
filtro inicial. Este filtro encoraja a pesquisa, a validação e, acima de tudo,
a maturação da ideia, evitando que propostas mal formuladas consumam tempo
desnecessariamente dos condóminos. Quando submetido, os condôminos terão
ferramentas para avaliar de forma objetiva sem paixões e subjetivismo que geram
conflitos desnecessários.
A modernização da comunicação
condominial também passa por compartilhar apresentações, vídeos ou documentos
para que os condôminos possam avaliá-los previamente. Além disso, a
implementação de um sistema de votação eletrônica, acessível por meio de smartphones,
tablets ou computadores, traria mais flexibilidade ao processo, permitindo a
participação à distância e, assim, facilitando o engajamento dos condôminos de
maneira mais pacífica e eficiente.
Essa abordagem, inspirada nas
práticas de governança corporativa das SAs, tem potencial para transformar as
assembleias de condomínio em espaços de decisão mais democráticos e
harmoniosos. Ao implantar estas sugestões, creio que haverá mais colaboração
por parte dos condôminos, teremos mais e melhores ideias, e poderemos melhorar
a vida de nossas famílias e de nossos vizinhos. Acho que vale levar esta ideia
para a próxima assembleia! O que você acha?
*Daniel Schnaider é jornalista e CEO da Platform Capital, fundo de investimento especializado em Inteligência Artificial e Mobilidade. Aos 14 anos desenvolveu a plataforma de eCommerce utilizada no exterior pelos Correios e pela Pizza Hut, teve
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