O dia de sábado (08.06) foi movimentado no Grande
Colorado. Moradores dos 54 condomínios se reuniram para protestar contra a
empresa empreendedora que anunciou acordo com os moradores. A relação já
bastante conturbada entre os dois lados piorou mais ainda após a reunião no dia
31 de maio, que não contou com a presença dos moradores, contrários a pagar os
valores que consideram exorbitantes apresentados pelo empreendedor.
Moradores dos 54
condomínios da região de Sobradinho realizaram na tarde de sábado (08.06)
assembleia geral, que reuniu mais de 450 participantes no auditório do Parque
do Dinossauro, na região do Grande Colorado.
Entre vários temas
abordados, os moradores protestaram contra o ¨acordo¨ que não contou com a
participação dos representantes dos condomínios. ¨As duas últimas reuniões foi
de grande desrespeito com a comunidade dos condomínios. Chegaram ao absurdo de
divulgar na imprensa que houve acordo entre as partes. Isso é mentira.
Justamente por não concordarmos, respeitosamente, enviamos uma carta ao
governador informando que os moradores não compareceriam. Só havia uma das
partes no encontro. Como pode ter havido acordo. E ainda mais acordo para
pagamento¨, questiona vários síndicos.
Os moradores
em Assembleias realizadas nos condomínios não aceitaram a exorbitante proposta
do empreendedor ¨e por isso mesmo vamos deixar claro que não assinamos acordo
nenhum¨, enfatizou Carlos Cardoso, presidente da Associação de Moradores do
Bairro Grande Colorado, Boa Vista e Contagem (AMGC), que presidiu a grande
assembleia no Parque do Dinossauro.
Cardoso explica que a área
onde estão os 54 condomínios é particular e todos já pagaram pelos seus lotes.
¨Primeiro, queriam nos vender de novo. Agora, resolveram dizer que estão
cobrando apenas pela regularização. Em uma das reuniões, o governo, que tentava
fazer a mediação do assunto, firmou acordou com os moradores que o valor seria
de R$ 60 o metro quadrado. Isso não foi cumprido e o valor final apresentado
pela empresa praticamente dobrou. Não podemos aceitar isso. Aceitar pagar por
algo que já pagamos. Estamos dentro de uma área particular e agora queremos uma
auditoria no valor das despesas, mas isso nos foi negado. O valor que querem que
paguemos ao empreendedor é cinco vezes superior ao custo de regularização que
eles firmaram com o governo, que é de R$ 48 milhões para as 5 regiões¨,
explicou o representante da AMGC, dizendo que o valor que a empresa quer
receber dos moradores é algo em torno de R$ 300 milhões.
Após posicionamento do
representante da AMGC, síndicos, presidentes de associações, advogados,
moradores e comerciantes dos bairros, foi aprovado:
. Reafirmação do não
pagamento a Urbanizadora Paranoazinho (UPSA), uma vez que todos declararam já
ter pago por seus lotes e que a empresa pretende arrancar dos moradores um
montante aproximado de R$ 300 milhões a título de regularização, quando no
documento assinado pela empresa com o governo, em 2014, o total das obras soma
R$ 48 milhões.
. Posicionamento contra o
projeto da construção da cidade (Urbitá) entre Sobradinho e o Plano Piloto pela
UPSA.
. Posição contra a
regularização dos parcelamentos no formato de loteamento aberto (sem muros e
guaritas) como está sendo realizado pela UPSA, modelo este em que o morador
passa a ter direito apenas sobre seu terreno, ficando as áreas verdes (lazer,
praças, parques etc) para a empresa.
. Realização
de uma grande manifestação no sábado, dia 15.06, a partir das 10h, com
concentração em três pontos: Grande Colorado (em frente
Panificadora Pão Nosso), Boa Vista e Contagem 3, na DF.425 (em
frente ao Jardim América) e Contagem 1 e 2, na Av. Parque Canela de
Ema, (em frente a farmácia).
Indignação
com acordo: Durante a assembleia no
Parque do Dinossauro, lideranças locais e moradores se mostraram indignados com
o chamado ¨acordo¨ que divulgaram como tendo sido feito no dia 31 de maio, no
Palácio do Buriti, entre a UPSA e os moradores.
O tom subiu.
¨Não existe acordo com apenas um dos lados presentes. Não concordamos com as
propostas apresentadas e não comparecemos. Logo não houve acordo¨, explica
Carlos Cardoso.
Os moradores dos 54
condomínios iniciaram um abaixo assinado, que já tem quase três mil
assinaturas, (esperam chegar a 10 mil
assinaturas) que será entregue junto com denúncias ao Ministério Público contra
a venda da Fazenda. ¨A mobilização precisa continuar em todas as frentes: com a
sociedade, com a imprensa, com os políticos sensíveis a nossa causa e,
principalmente na esfera cível (usucapião), reforçada agora pela criminal, via
pedido de abertura de inquéritos contra a UPSA¨, enfatizou Tadeu Spohr, morador
da região.
¨É importante lembrar que a
obrigação de regularização é do empreendedor, nesse caso da UPSA. Quando a
empresa comprou os direitos dos herdeiros da antiga fazenda e de outros, eles
compraram os ônus e os bônus¨, lembrou outro morador.
Para Harley Amaral, síndico
e morador da região, a Justiça tem que atuar analisando profundamente o que
aconteceu: a documentação e o contexto da compra da antiga fazenda, assim como
o fato do decreto de mediação ter sido amplamente desrespeitado em vários
aspectos, ignorando a proposta apresentada pelos moradores para a continuidade
das negociações¨.
O ex
deputado Raad Massouh é morador da região e participa do grupo contra as ações
da UPSA. ¨Já estou vendo que tipo de denúncia deve ser apresentada e os motivos
para já fazer a representação contra essa empresa, imediatamente¨, explicou.
Antes de encerrar a
entrevista, o presidente da AMGC falou mais uma vez sobre o formato de
regularização que a Urbanizadora Paranoazinho está promovendo no bairro:
loteamento aberto, sem muros e guaritas.