BRASÍLIA — De discreta e sóbria, como Michel Temer
queria, sua posse e a de seus ministros não tiveram nada. Temer
optou pelo Salão Leste, o menor do Palácio do Planalto, para evitar uma
cerimônia pomposa. Mas a opção acabou provocando confusão. O clima era de festa
organizada de última hora. Havia claques como as de torcidas de futebol
gritando os nomes dos ministros empossados. Políticos do baixo clero circulavam
atrás dos novos ministros, sugerindo indicações para cargos no governo.
O presidente em exercício Michel Temer deu posse aos novos ministros |
O calor pouco habitual no Salão Leste, pela
quantidade de gente que se espremia para chegar perto de Temer, passou
despercebido para quase todos. Fotógrafos e cinegrafistas brigavam com a
plateia, instalada à frente das câmeras. Surgiu um coro “Não vai ter foto”,
para surpresa, mas risada geral, dos convidados do presidente interino. Um
telão foi colocado às pressas no Salão Nobre para acomodar grande parte dos que
chegavam para a cerimônia.
Deputados, sobretudo tucanos e democratas, que
deixaram de frequentar os corredores do palácio presidencial há 14 anos,
acotovelavam-se para fazer selfies e aparecer perto de Temer.
O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, chegou
um tanto sem graça e parecendo fora de seu ambiente natural. Mas foi só Temer
chegar ao salão que o tucano, rápido, apareceu ao seu lado como se fosse
companheiro de chapa presidencial. Os dois apertaram as mãos e sorriram para
câmeras e convidados.
Sem nenhuma liturgia, uma das palavras preferidas
de Temer, deputados circulavam durante os dois momentos solenes da tarde: o ato
de posse e o primeiro pronunciamento à nação. Durante o ato de posse, o
cerimonialista repetiu as chamadas de vários ministros, entre eles, Henrique
Meirelles, Raul Jungmann, e Maurício Quintella Lessa.
— Nunca tinha visto isso em toda a minha vida neste
Planalto — comentou um funcionário que trabalha no Palácio desde o governo de
José Sarney; o ex-presidente foi um dos personagens que não apareceram, como o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os presidentes afastado e
interino da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Waldir Maranhão (PP-MA).
Sem a companhia da mulher, Marcela, e dos filhos,
Temer ainda começava a discursar quando começou uma gritaria ao fundo do salão.
Era uma tentativa de invasão pela rampa do Planalto. Todos se assustaram com o
barulho. Mas o presidente interino não parou de falar. Temer só se calou quando
começou a ficar rouco. Sem graça, tomou um gole de água. Não adiantou. Riu
dizendo que precisava de uma pastilha. Um convidado entregou uma bala a Temer.
Foi motivo para um coro surgir: “Michel, Michel, Michel”.
O peemedebista cunhou a expressão que deverá usar
em suas falas públicas. Sai o “companheiros e companheiras” da era petista,
para o “meus amigos” da gestão Temer. Assim como na carta em que enviou a Dilma
ano passado usando a expressão em latim “Verba volant, scripta manent” (as
palavras voam, os escritos permanecem), Temer apoiou-se novamente na língua que
deu origem ao português. Fez uma menção inesperada à religiosidade, e explicou:
“Vocês sabem que religião vem do latim religio, religare, portanto, você,
quando é religioso, você está fazendo uma religação”.
Após o discurso, autoridades de várias religiões o
esperavam para ato ecumênico no seu gabinete, no 3º andar do Planalto. Foi uma
bênção coletiva ao presidente interino.
— Peço a Deus que abençoe a todos nós: a mim, à
minha equipe, aos congressistas, aos membros do Judiciário e ao povo brasileiro
— pediu Temer.
Fonte: O Globo
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