Proposta
prioriza o transporte individual na Esplanada dos Ministérios: ideia polêmica é
condenada por especialistas
Carla Rodrigues
Uma cidade artificial. Muito antes de ter habitantes, Brasília
teve seus espaços desenhados. Hoje, por meio do Plano de
Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCUB), a capital pode estar próxima de
ter suas características alteradas. Ainda desconhecida por parte da
população, a sigla divide opiniões entre urbanistas, arquitetos, grandes
empresas, governo e deputados distritais. Um dos pontos trata de
alterações urbanísticas no centro de Brasília: a Esplanada dos Ministérios. Ao
contrário de outras capitais do mundo, que hoje pensam em sustentabilidade, a
ideia naquela área é dar mais suporte aos veículos particulares, construindo um
estacionamento subterrâneo.
PPCUB: Projeto de estacionamento subterrâneo na Esplanada
O
complexo, aprovado pelo Conplan na última sexta-feira será dividido em quatro
andares, com espaço para mais de nove mil carros. A justificativa para tamanha
obra seria a ausência de vagas no local para aproximadamente 7,5 mil veículos.
Entretanto, na outra ponta, questiona-se o porquê de não pensar em outras
alternativas para o problema, como, por exemplo, transporte público de massa.
Para um
dos representantes do grupo Urbanistas por Brasília, Cristiano de Sousa
Nascimento, “o problema maior em relação a esse tema, ao nosso ver, não é o
estacionamento em si, mas a falta de interesse em buscar outras soluções.
Entendemos que uma construção dessa envergadura deveria ser a última opção e não
a primeira”.
Para o
especialista, “o ápice é o governo afirmar que a
estrutura, concebida para reduzir o déficit de vagas para veículos na área
central de Brasília, é um dos instrumentos da política de transportes do GDF”.
Opiniões
divergem
Conforme
anunciado pelo governo, a estrutura do megaestacionamento subterrâneo ocupará
340 mil m². Uma imagem, amplamente divulgada, mostra quais seriam os
pontos de entrada e saída de veículos. “Existe uma vontade muito grande do
governo em licitar áreas de alto valor para gerar caixa em detrimento próprio e
atender a grandes empreendedores imobiliários que, com certeza, saberão
agradecer este esforço governamental investindo muito no DF”, analisa o
presidente do Fórum das ONGs Ambientalistas, Luiz Mourão.
Enquanto
representantes da sociedade civil questionam a ausência de argumentos para
construir o estacionamento subterrâneo no coração de Brasília,
representantes da área de construção civil mostram interesse na aprovação.
“Defendemos a aprovação urgente do PPCUB e de outros projetos. Hoje, a
construção civil responde por mais de 83 mil postos de trabalho, que só poderão
ser mantidos com uma lei moderna e consolidada”, alega o presidente do
Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Júlio Peres.
Análise
Aparentemente
ignorando as polêmicas, o Conplan continua votando itens do projeto. Os 26
conselheiros continuam apressando a proposição, conseguindo, em tempo recorde,
analisar planilhas, artigos, itens sobre as normas de uso e ocupação da poligonal
tombada e seu entorno, destrinchadas em nada menos do que 700 páginas.
“Não
posso dizer que fomos pegos de surpresa com a aprovação do projeto. Na nossa
cabeça, só aconteceu exatamente o que temíamos. Estão desconsiderando a
qualidade de vida do cidadão, a sustentabilidade socioeconômica e, sobretudo,
ambiental”, afirmou a diretora do Conselho Comunitário da Asa Norte, Rose
D’Carmo.
Fonte: Jornal de Brasília
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